segunda-feira, 29 de março de 2010

As Visitantes - Parte I

Apesar de não ter dormido toda a noite e de toda a ansiedade, como boa Castelo Branco que sou, saí de casa levemente atrasada e atrapalhada pra buscar as Sras. Ana e Carmen no Aeroporto. Chegou o tão esperado dia! Saí andando apressada do trem, sem saber muito bem como chegar no portão de desembarque do Terminal 1 do El Prat. Avistei o portão, muita gente pra lá e pra cá, olhei pra um lado e pro outro e a vi encostada no carrinho de bagagem. Mãaaaae! Saí correndo pra um abraço bem apertado. Que coisa boa é colo de mãe. Tia Gueira nesse momento já estava gastando seu castellano, proveniente de um livro de espanhol para viajantes, no balcão de uma cafeteria. Depois dos beijos e abraços, caminho de volta pra casa. Táxi? Nem pensar! Fiz as Castelo entrarem no esquema: um ônibus, um trem, um metrô e 3 quarteirões. Depois de acomodá-las no meu quarto, uma descidinha pra fumar e reconhecer território. Caminhamos da Sagrada Família ao Hospital Sant Pau pela avenida Gaudí. Já era noite e fazia frio, então descansar para explorar a cidade no dia seguinte.

Logo no primeiro dia as levei pra praça Catalunya, o centro comercial-simbólico-quase-geográfico da cidade. Partindo daí Ramblas abaixo, entrando pelo bairro Gótico e pelo Raval. Canaleta, igrejinha, La Boqueria (parte preferida, como não podia deixar de ser), cafés, catedral, pinchos e tapas, Plaza Real, prefeitura, artistas e flores da Rambla e um monte de turistas. Depois seguimos até o monumento a Colón e atravessamos o paseo até a Rambla do Mar e a essa altura as duas já estavam mortasss, pedindo penico. Sim, e a caminhada de Canindé serviu pra que mesmo? Deu 5h da tarde, hora da minha aulinha. Então deixei as duas sozinhas, com um mapa na mão, endereços e números de telefone, instruções para pegar o metrô de volta pra casa e uma missão: chegar ao museu Picasso sozinhas. Fiquei um pouco preocupada, mas no fim deu tudo certo, fora um pequeno desvio que elas fizeram no caminho de casa pra ir no supermercado que resultou em ficarem perdidas por alguns momentos, mas as duas se viraram super bem. Quando cheguei, ufa! Estavam sentadinhas na calçada fumando seus cigarros.

Ok, eu a própria louca, né? Tratando minha mãe e minha tia como crianças de 10 anos. Mas eu não sei o que deu em mim, me senti responsável por elas, tinha que tá aí pra ajudar a comunicarem-se, a não perderem-se, a decidir o que íamos fazer, pra que lado caminhar, como fazer. Bateu um leve desespero em não ser mais a "cuidada" e sim a "que cuida", senti falta de ser a bebê, quando fazem tudo por você e não há com que se preocupar. A verdade é que eu me dei conta que morando sozinha dei um passo pra "gente-grandice" sem volta.

FOTO: MÃAAAAE!

FOTO: NO TETO DA CATEDRAL DE BARCELONA

FOTO: CASTELOS NA PRAÇA REAL

FOTO: TOMANDO AGUINHA PRA GARANTIR A VOLTA.


Enfim. Dia seguinte, aeroporto rumo a Madrid. Acordamos ainda de madrugada pra chegar no aeroporto a tempo e sem problemas. A viagem foi tranquila, rápida e sonolenta, mas ao chegar a surpresinha: minha mala rosa-chiclete foi deixada em Barcelona pela companhia aérea. Acontece que numa sexta-feira na Espanha ninguém trabalha depois de meio-dia, e a empresa que faz entregas e poderia levar minha mala no hotel só voltaria a trabalhar na segunda de manhã, então minha única opção era esperar no aeroporto o próximo voo que traria minha malinha. Tome banco duro, sono, frio e mau-humor. Assunto resolvido. Madrid, aí vamos nós! Mapa na mão, buscando na memória algumas dicas que peguei com uma amiga que morou aí, três Castelo ansiosas por conhecer tudo.

Madrid é linda! Bem maior que Barcelona, jeito de metrópole, prédios imponentes. Fizemos um recorrido a pé pela parte histórica da cidade. Plaza Mayor, Puerta del Sol, parada para um bocadillo de jamón, Teatro, Palácio Real, Catedral de Almudena e Museu Reina Sofia. O museu é gigante, com obras de várias correntes do século XX. Surrealistas, modernistas, contemporâneos, pop's. Magrittes, lichtensteins, mirós, dalís, picassos, e a grande estrela: a Guernica! Linda! Enorme! Acompanhada de mil esboços tão incríveis quanto a obra final. É de emocionar ver assim na sua frente uma obra que você já viu tantas vezes reproduzidas. Eu caminhando tranquilamente por uma das salas de exposição quando vejo bem rápido e de relance no corredor ao lado aquele painel com algo familiar, e penso: pára tudo! É a Guernica! É como encontrar um amigo, um rosto conhecido na multidão. Não quero nem pensar no dia em que eu tiver a oportunidade de entrar no Louvre. Ai, ai. Bom, já morrrrtas, com os pés doloridos fomos jantar numa zona cheinha de bons de restaurantes. Comemos divinamente bem e fomos servidas pela garçonete com o penteado mais fashion da cidade.


FOTO: MADRID: LINDA E IMPONENTE.

FOTO: PÁTIO DO REINA SOFIA. UM LICHTENSTEIN.

No dia seguinte resolvemos tomar o Bus Turístico, vulgo trenzinho da alegria, pra conhecer melhor a cidade e poupar um pouco nossos pés. No bus te dão um fone de ouvido pra você acompanhar um áudio-guia que vai explicando tudo por onde ele vai passando. O problema é que os fones são descartáveis, ou seja, PAIAS, cheios de mau-contato, fora isso tem uns botõezinhos pra sintonizar o canal no seu idioma que até hoje eu não entendi qual é o problema deles em obedecer aos comandos humanos. Uma luta pra chegar no canal certo! E as vezes você tranquilão ouvindo e trocava o idioma pra chinês, grego, árabe... enfim, dá pra imaginar o bom-humor e paciência das 3 com a bendita narradora que pra completar tinha sotaque português.

FOTO: PASSEIO POR MADRID.

FOTO: TRENZINHO DA ALEGRIA.

Parada pra entrar no Museu do Prado, o acervo mais importante da Espanha, um dos mais importantes do mundo. Dióoos mio! Aqui voltamos no tempo uns séculos mais. Obras clássicas. Goya, Velazquez, Rafael, Rubens, Tiziano, El Greco, El Bosco, Caravaggio, Van Dyck e uma infinidaaade de outros artistas. Eu disse que o Reina Sofia era gigante? Rá! Nesse eu podia ficar uns 3 dias. A emoçãozinha-do-rosto conhecido se repetiu muitas vezes, além da emoçãozinha-da-primeira-vez-que-vejo-uma-coisa-tão-linda-assim. Os detalhes das pinturas eram incríveis. Os vestidos e as jóias dos retratos pareciam saltar dos quadros de tão perfeitas. Dava pra sentir a textura dos tecidos, a dureza dos metais. As esculturas greco-romanas então, pareciam que iam se mexer a qualquer momento. As Meninas do Velázquez estavam lá, no corredor principal, tão grande e impactante como eu não imaginava que fosse.

FOTO: O PRADO!

FOTO: ANTEPASSADOS. CONDE E CONDESSA DE CASTELL-BLANC NO PRADO. CHIQUE NO ÚLTIMO MINHA FAMÍLIA.

Seguindo, passeio pela Gran Via outros ponto importantes e uma parada no Palácio Real, dessa vez pra entrar. Perfeito! Foi construído no século XVIII e serviu de residência aos reis até um par de décadas atrás. É o maior palácio da europa ocidental, com mais de 3.000 [!!!] quartos. Um luxo só! Quartos de ouro, de porcelana, de veludo, obras de arte, móveis e objetos inacreditáveis. Uma viagem no tempo. Muito louco ver a extravagância dos reis e como eles viviam.

Pra terminar o dia tão incrível fomos a um bar tomar sangria e comer polvo à gallega. Tia Gueira gamou na sangria, pediu e receita pro garçon e reproduziu improvisadamente depois aqui em casa. O polvo, di-vi-no! Não satisfeitas caminhamos um pouco e entramos em um restaurante igualmente gallego. Minhas "meninas" já levemente borrachas a rir até do vento, o garçon eleito como "poxa, que coxa" a servir chupitos e emborrachar mais ainda a mãe e a tia alheia. O prato que nos serviram era tão grande que provocou uma crise de riso e chamou atenção de 2 americanas da mesa ao lado, que no fim do jantar já eram melhooores amigas das Castelo.

VÍDEO: A DONA DO PALÁCIO.

VÍDEO: MOMENTO ANA MARIA BRAGA NO BAR.


FOTO: RESTAURANTE GALLEGO.

VÍDEO: AS BORRACHAS E O POXA-QUE-COXA.

E aqui, no 3º dia, faltando ainda oito dias na companhia delas termina a primeira parte da narrativa Castelos na Espanha. A maratona estava só começando.

6 comentários:

  1. Filhota, não queria te dizer, mas como teu pai me sinto na obrigação de te falar: lamento afirmar, mas tenho a impressão que labutas em terreno pouco apropriado ao teu talento. Claro está que o design gráfico te vai ser útil em um futuro próximo, mas me é mais do que evidente que insistes na profissão errada! Voce nasceu para ser uma contadora de estórias. Sentimentos, todos tem. Saber traduzí-los prodigiosamente, exprimí-los de maneira tão categórica, induzir o leitor a vivenciá-los, é tarefa acessível somente aos grandes narradores. O pecado está apenas em causar espectativa quanto aos próximos capítulos. Coisas de novelistas, enfim.

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  2. E também, no meu caso, em trocar o x pelo s. Beijo.

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  3. Pai coruja é assim mesmo. Acha tudo que a filha faz lindo. Tão coruja, mas tão coruja, que nem precisou divulgar a atualização do blog pra aparecer comentários dele por aqui.
    Não lamente papai. Eu não escolhi a profissão errada, eu escolhi comunicação. E como designer eu não deixo de ser uma contadora de estórias, apenas tenho que aprender a contar estórias sem usar palavras.
    Amo! Beijo!

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  4. Apoio irrestritamente as tuas escolhas. Apenas quis ressaltar o fato de que, quem poderia, com uma frase, me mostrar o seu futuro e me fazer sonhá-lo e no parágrafo seguinte me contar o seu passado e me fazer vivê-lo? Quanto a contar estórias sem usar palavras, meu mavioso amor, basta olhar nos teus olhos e contemplar o infinito.

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  5. larinha,

    nao sei se choro , nao sei se rio , nao sei se tenho uma crise de orgulho....as fotos estao simplesmente lindas e o texto ..bom falar do texto seria cair no obvio ululante do elogio ...

    os dois personagens desta tua novela sao pessoas que fazem parte da MINHA novela ...kkk

    te amo ...juizo e venha logo

    tio pedro

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  6. Menina esse povo ai é tão poético que eu tenho até medo de deixar um post aqui e passar vergonha!! uahauhauh amiga ta tudo Mara uahauhauhauah!! Amo vivenciar isso com vc e queria ta ai com vcs nesses dias!

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