sexta-feira, 21 de maio de 2010

Quase tudo são flores.

Viver as quatro estações do ano é algo completamente novo pra mim. Pra quem vive perto da linha do equador e está acostumado com a regularidade do clima, da posição do sol, da lua, das estrelas, do vento, das marés e da luz em determinados horários, saber que a cada dois ou três meses vai mudar tudo de lugar é meio louco. Meio-dia o sol vai estar no alto e as sombras somem, certo? Doce ilusão. Aqui tudo isso é relativo. Depois de um tempo eu resolvi me desligar das minhas referências naturais e a confiar apenas no relógio e no weather channel.

A chegada da primavera é uma das partes mais gostosas de viver na parte temperada da terra. O incomodo frio do inverno vai dando lugar ao clima agradável, com brisa fria e sol quentinho. As árvores nuas começam a cobrir-se de pequenas folhinhas verdes e, claro, de flores! Lindas, coloridas e delicadas flores. Além disso, as pessoas começam a serem contagiadas pela mudança. Saem mais de casa, colocam mais cor nas roupas que usam. É tempo de se jogar nos gramados dos parques, sentir que os dias vão pouco a pouco ficando mais longos e as noite mais curtas.
Não é a toa que em Barcelona acontecem vários eventos de boas-vindas à primavera, alguns organizados pela prefeitura, outros por empresas, ou pelas pessoas mesmo. Então, uma das minha companheiras de master, Teresa, a catalã, resolveu fazer na sua casa uma festinha dessas. Ela fez um convite todo bonitinho e publicou no facebook. Os convidados deveriam trajar algo com flores e, como fica implícito em qualquer reuniãozinha em casa de alguém, levar sua bebidinha. Mas a Tere foi super caprichosa. Ela mora sozinha em apartamento bem legal na Aribau, 55. Decorou o ambiente com flores de papel, velinhas e fez uma iluminação toda especial. A festa foi bem divertida, regada a muito ron. Conversamos e dançamos a noite toda e depois de borrachitos esticamos a festa pra casa do Cesar, onde uma boa parte do grupo seguiu con los bailes y, por supuesto, con el ron.

Aliás, o novo apartamento do Cesar é um capítulo a parte. Cesar, meu companheiro de master já apresentado em posts anteriores tinha acabado de se mudar para o seu 3º lar em apenas 6 meses. Quando chegou aqui ele morava com um amigo e mais um casal, todos venezuelanos. Depois ele teve um pequeno atrito com eles e se mudou para um apezinho para morar só, mas pagar um aluguel sozinho em Barcelona é um pouco pesado. Então um amigo caraquenho dele estava procurando piso, quando apareceu mais um outro caraquenho na jogada e de repente estavam os 3 venezuelanos dividindo o apartamento mais looouco de Barcelona: o Girona, 175. Logo de cara "Los Danieles", os novos companheiros de piso dele, nos caíram super bem e viraram amigos de várias aventuras. Entre as peculiaridades do apartamento estavam a própria arquitetura dele, com corredores escondidos e portas secretas, e o fato de ele se localizar em cima de um cinema, então os meninos as vezes recolhiam o material que ia pro lixo pra decorar a casa. As paredes eram cheias de lindos rolos gigantescos de filme, plaquinhas de metal com setas que diziam: sala 2. Quando eles se mudaram também encontraram uns objetos estranhos como uma algema de pelúcia e um pé de uma bota de salto alto também de pelúcia que obviamente eram parte da decoração. Melhor ainda ficou depois da festa de aniversário de um dos Danieles, o Slikas, que foi à fantasia e várias partes das fantasias dos convidados se agregaram ao apartamento: cartas de baralho, perucas, chapéus, nariz de palhaço, globo de espelhos, etc. Os meninos além de simpáticos, são muito receptivos, então a casa deles está sempre cheia, seja de hóspedes ou visitas. Qualquer coisa em Girona, 175 termina em festa e em Arepas.
Asterisco em Arepas? Pois bem, é uma prato típico venezuelano. Uma massinha de farinha de milho que se assa ou frita, corta ao meio e recheia com queijo, presunto, manteiga, perico (ovos com tomate e cebola), carne, frango, jamón serrano, atum ou o que a sua imaginação quiser. Minha nova paixão!

FOTO: AGORA DÁ PRA ENTENDER OS EUROPEUS. TOMAR UM SOLZINHO NO PARQUE É O QUE HÁ.

 
FOTO: FLORES NO CABELO.

FOTO: PARQUINHO NA PRAIA. COMENDO NUVENS.

 FOTO: ADEUS CAFÉ, CHÁ E COISAS QUENTES. COM PABLITO, TOMANDO SORVETE SOBRE NOSSOS DESENHOS COLORIDOS.

 
FOTO: FESTA DE BOAS-VINDAS À PRIMAVERA.

 FOTO: AREPAS NA INAUGURAÇÃO DO GIRONA, 175.

Foi no início da primavera também o meu primeiro contato com a areia da praia. Foi interessante descalçar botas e meias e sentir a areia gelada. Areia gelada?! A cearense acostumada a tostar os pés na praia ficou chocada ao constatar que isso existe. E mesmo com um lindo sol brilhando. Nessas épocas a praia é super tranquila, funciona mais como um ponto de encontro onde a galera leva uma esteira e bebida com os amigos ou simplemente lê um livro, ouve música. É engraçado olhar pra areia e só ver gente vestida, muitas vezes com bota, cachecol, pegando um solzinho quentinho pra amenizar a brisa gelada. Mas claro, sempre tem doido em traje de banho, entrando no mar congelante ou, como todo europeu, obcecado por pegar uma corzinha não importando ter que sofrer com a temperatura pra isso.

FOTO: LOOK PRAIA.

 FOTO: FIM DE TARDE COM A GALERA NA BARCELONETA.


FOTO: RELAX. 

FOTO: NO TRANVIA DE BARCELONA CURTINDO A CIDADE.

FOTO: CLARA E FLOR. O TERROR DAS PALOMAS DA PLAÇA CATALUNYA.

No dia 23 de Abril se comemora o dia de Sant Jordi, uma das datas comemorativas mais importantes da Catalunya. Dia de celebração do catalanismo nas ruas. Listras vermelhas e amarelas espalhadas por todos os lados e, como manda tradição, dia de presentear as mulheres com rosas vermelhas e os homens com livros.
São Jorge, tão místico no Brasil, aqui é um cavaleiro romântico. Reza uma das inúmeras lendas que ele matou o dragão pra salvar a filha do rei, e que no lugar do sangue derramado nasceram rosas vermelhas. Além disso, uma antiga feira de flores que acontecia nos tempos medievais nessa mesma época do ano deram origem à essa tradição de regalar flores. Muitos séculos depois foi instaurado na mesma data o Dia do Livro, pois 23 de abril é a data de morte de Shakespeare, de Cervantes e de outros escritores famosos; então o dia de Sant Jordi absorveu essa comemoração.
Mesmo sem ser feriado [!] as ruas são cheias, as Ramblas então nem se fala, totalmente ocupadas por banquinhas de livros e de flores. Na Plaça Sant Jaume, onde está o Palau de la Generalitat e o Ajuntament, sedes do governo catalão e da prefeitura de Barcelona, respectivamente, se concentra o núcleo da festa. Tem multidão, flores, livros, bandinha e gente dançando a Sardana, que com todo o meu respeito e carinho aos catalães, é a dança típica mais sem graça do mundo. Pense aí: uma roda, todo mundo de mãos dadas e levantadas dando pulinhos sem sair do lugar e na hora em que você acha que a coisa vai começar de verdade eles gritam: Hey! e acaba.
Nesse dia o Palau de la Generalitat abre as portas para visitação. É a única oportunidade do ano pra visitar o palácio, então o núcleo luso-brasileiro (leia-se eu, Mari e Marina) resolveu enfrentar uma filinha e ir conhecer a sede do governo por dentro. É um enorme edifício gótico do século XV cheio de salas com estilos bem diversos, afinal ao longo de tantos anos muitas interferências foram feitas no palácio. Dá pra visitar até o gabinete do presidente, além de uma assembléia e a capela Sant Jordi.
Depois da visita me uni as minhas compis pra continuar o passeio pelo bairro gótico e terminamos comendo um shawarma na Plaça Reial, onde a China ganhou uma rosa do garçom. Pelo menos alguém se deu bem no, como dizem por aí, Valantine's Day da Catalunha, né?


FOTO: ROSAS BEM ORIGINAIS PARA O DIA DE SANT JORDI.

 FOTO: MARINA E MARI NA VISITA AO PALAU DE LA GENERALITAT.

 FOTO: CAPILLA DE SANT JORDI

FOTO: DANÇANDO A SARDANA EM JAUME I.


Também durante a primavera acontece uma exposição de flores na cidade de Girona, a Temps de Flors, que nem de longe se parece com uma feira de agricultores. É uma verdadeira exposição de arte a céu aberto. Vários pontos do centro histórico são transformados por artistas plásticos, designers e arquitetos, decorados com flores naturais e de inúmeros materiais formando instalações lindíssimas.
Nos juntamos, eu, Flor, Kari, China, Bia, Lili, Gema, e, munidas de sanduíches e sucos, tomamos o trem  na estação de Sants rumo ao norte. Era um dia de domingo, e além de haver muita gente indo visitar e expo em Girona este era o dia do GP de Fórmula 1 de Barcelona, que acontece em em Montmelo, entre Barcelona e Girona. Os trens estavam bem cheios. Muita gente com suas camisas da Ferrari, o que sinalizava que a grande massa iria ficar pelo meio do caminho.
Minha primeira passagem por Girona tinha sido na visita das Castelo. Bem corrido, já num fim de tarde e com clima frio. Dessa vez a cidade estava bem diferente. Recebemos um mapa do centro histórico com vários pontinhos indicando as instalações da Temp de Flors. Tudo lindo e encantador. Tinha escadarias cobertas por tapetes de flores; flores formando objetos, móveis, ambientes, penduradas nas janelas; flores de papel, de madeira, de plástico. E tudo isso não só no meio da rua. Tinham instalações nos parques, dentro e fora das igrejas, dentro de casas, em terrazas, no riacho que cruza a cidade, nas praças, nos jardins e até em vitrines de lojas. Uma das instalações era obra de alunos da UPC, e tínhamos uns amigos arquitetos brasileiros que participaram do projeto. Mas eram tantas instalações que nem temos certeza se passamos pela deles. Lá, encontramos a Teresa, a mesma catalã da festa primaveral. Ela é natural de Girona e estava na cidade passando o fim de semana com a família. Nos guiou pelos pontos em que ainda não havíamos passado. Mostrou algumas partes da cidade que serviram de locação para o filme O Perfume, a ponte Eiffel (projetada pelo mesmo amiguinho da torre mega-famosa) e contou um pouco mais sobre o que víamos. Comi os melhores churros cobertos com chocolate da minha vida, um sorvete quase igualmente maravilhoso e uma chuvinha primaveral de fim de tarde resolveu aliar-se ao nosso cansaço e convencer-nos a voltar pra casa.
Quem tiver interesse em conhecer essa linda, encantadora e surpreendente cidade de ares medievais, eu super-aconselho o período da exposição.


FOTO: TEMPS DE FLORS. BALCONES & GÉRBERAS.

FOTO: MAIS CORES NO JARDIM. 

FOTO: QR CODE FORMADO POR FLORES. PENA QUE EU NÃO TINHA SMARTPHONE PRA VER O QUE FORMAVA.

FOTO: FLOR E FLORES.

 FOTO: ROSAS ROJAS.

FOTO: BARRIS QUE VIRAM FLORES.

FOTO: PONTE EIFFEL. 

 FOTO: MAR DE ROSAS. OPS, MARGARIDAS.

FOTO: ISSO SIM É UMA TOALHA CHEIROSINHA. 

FOTO: TREM LOTADO? A GENTE VAI NO CHÃO.

FOTO: CON MI CHINIX EN EL TREN, DESTROZADA.


Todo ano acontece em Barcelona a Nit dels Museus. Ou seja, uma noite em que praticamente todos os museus e espaços culturais da cidade ficam abertos durante a noite e entrando madrugada adentro. Alguns museus preparam programações especiais para esta data, e tudo isso totalmente grátis.
Esse ano aconteceu no dia 15 de maio. Vi o site do evento, fiz a lista dos museus que queria visitar, mas na hora acabei indo a outros totalmente diferentes. É uma verdadeira maratona, porque nem todos os museus ficam próximos uns dos outros e as filas são bem grandes. Então não dá pra perder muito tempo com deslocamento. Fui para a Plaça Catalunya, ponto central da cidade, e me encontrei com as brazucas Ju e Miri para visitar o espaço cultural da Caja Madrid, que estava com uma exposição bem interessante sobre lares. Em seguida fomos ao Museu Picasso, pois havia uma apresentação na terraza do museu de misturava projeções de vídeo. um DJ tocando e uma cantora.
Já que em frente ao Picasso fica o Disseny Hub e a fila não estava tão grande, entramos pra conferir, e, ao ir ao banheiro constatamos que este museu e seu vizinho, o Museu de Arte Pre-colombiana dividem os mesmos banheiros. Passamos pro museu ao lado sem pegar fila e economizamos um bom tempo. Isso nos rendeu tempo pra atravessar a Ciutat Vella caminhando e chegar ao MACBA, o Museu de Arte Comteporânea de Barcelona. Que apesar de enorme estava beeem cheio. Na programação do MACBA tinha uma visita guiada que propunha uma nova forma de se visitar uma exposição, ou seja, transformar-se em uma obra de arte contemporânea.

 FOTO: LA NIT DELS MUSEUS E UMA FILINHA BÁSICA NO MUSEU PICASSO.

FOTO: MIRI, EU E NOSSAS BESTEIRAS. ACHO QUE SAÍ MELHOR QUE O PICASSO.

 FOTO: VIRANDO OBRA DE ARTE NO MACBA.

FOTO: ARTE CONTEMPORÂNEA EFÊMERA.


FOTO: É PEDRA! UMA DAS SALAS DO MACBA.

Quer dizer que a primavera é só flores?? Infelizmente não. A parte chata é que nessa época do ano também costuma chover bastante, além da polinização que de tão forte causa muita alergia. A combinação chuva + polinização acaba deixando um monte de gente alérgica, gripada, com todas as "ites" que se tem direito. Até eu que sou relativamente resistente tive uma inflamação nos gânglios, uma amigdalite me derrubou e me deixou mais de uma semana de cama no fim da estação. Muita dor, mal estar. Em alguma hora a gente tem que usar o seguro-saúde, né? Consulta, médico, hospital, antibiótico... a conclusão que eu tiro desse período chato é: só a nutella salva.

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